Estes são alguns textos de alunos, resultantes do projeto
Estadão na Escola, que foram publicados na
edição especial do Zap!:
Limpeza é uma crônica bem-humorada
sobre química, de autoria de tatiana palladino; Filme Alerta Para Genocídio de
Índios, de Joana Setzer, é uma crítica do
filme Povo da Lua, Povo do Sangue, sobre o massacre dos
índios ianomami; Sei Cada Vez Mais, Sobre Cada
Vez Menos é um artigo em que Fernanda M. F. Amaral
expõe sua opinião sobre o poder e a
informação.
Tatiana Palladino
A água corria rapidamente por entre seus dedos, límpida, cristalina. Um pouco de sabão. Espuma branca, perfume suave.
Esfregava as mãos, uma à outra, compactas, úmidas, numa atração seguida por uma repulsão. Um combate: palma contra palma.
Suas linhas, suas marcas, perdiam-se na névoa provocada pela composição química: o sabão e o seqüestrante tiravam-lhe da vista as lembraças imprimidas nos órgãos.
O antioxidante encobria seus caminhos de amor e saúde, o emoliente, aliado ao perfume e ao corante, não deixava aparecer nenhuma reminiscência. A água, esta purificava-lhe a alma, o corpo, a mente.
O combate acirrava-se, o campo de batalha fôra invadido por uma enxurrada muito forte. A luta tornava-se perigosa. Os combatentes enfrentavam-se com fúria.
Sangue escorrendo juntamente com a água pura. Tirava-lhe a transparência, transformava sua consistência.
A força, porém, não diminui. Cada vez mais, os músculos vão se contraindo, esmagando impressões, fazendo escoar o líquido pastoso, tirando as impurezas.
Mais sabão. Uma mistura heterogênea, no início, onde os componentes acabaram se integrando uns aos outros, perdendo suas caracterísitcas iniciais, suas identidades. Eram agora uma só fase.
Sangue, água, memórias, realidade, sabão, sonhos, medos, heterogeneamente ligados, sem qualquer possibilidade de separação.
E foi assim que escoaram ralo abaixo, passando pelos canos da casa, desembocando em canais fétidos, levando muito e, ao mesmo tempo, nada consigo.
Tatiana Palladino tem 16 anos e estuda
no Colégio Fernando Pessoa. [Subir]
Joana Setzer
O filme Povo da Lua, Povo do Sangue, de Marcelo Tassara, constrói
uma mensagem de alerta sobre o genocídio dos ianomâmi.
Feito a partir de imagens fotográficas, a obra ampliou
o impacto real da destruição dos no mil ianomâmis
ameaçados de extinção.
Enfatiza a necessidade de preservação da floresta
equatorial para a sobrevivência física e cultural
desse povo.
O filme mostra claramente as mudanças que ocorreram após
a invasão dos brancos - principalmente garimpeiros. A utilização
tradicional dos recursos naturais, numa relação
de equilíbrio com o meio ambiente, aparece no início
do filme. Logo depois o povo ianomâmi passa a viver um pesadelo,
em meio à fome, desnutrição, desagregação
social...
A avalanche de garimpos em terras ianomâmis trouxe conflitos
armados e doenças contagiosas que mataram milhares de indígenas.
Além disso, assim como ocorreu com outros povos da floresta,
o álccol, as estradas e a prostituição criaram
um trauma social e ecológico para este povo que ficou totalmente
vulnerável e à mercê dos garimpeiros.
Joana Setzer tem 15 anos e estuda na Escola Nossa Sra. das Graças. [Subir]
Fernanda M. F. Amaral
O conceito de despotismo nos leva diretamente à esfera do poder. Despotismo: o poder exercido de forma absolutista.
As fontes de conhecimento, de informação, principalmente de massa, são facilmente manipuladas. As notícias que chegam até nós têm que ser discutidas quanto à sua veracidade. Pois estas atendem à população segundo um jogo de interesses políticos.
A mídia é responsável por essa manipulação moral das massas. O ser humano é facilmente manipulado, simplesmente porque não procura conhecimento além de seus limites. Somos todos comodistas. Mesmo se formos pensar em excesso de conhecimento, nos deparamos com a impotência diante dos fatos. Impotência, devido à distância cultural e geográfica.
Temos, hoje em dia, a realidade do caos social e econômico que vive tanto em Cuba como no Haiti. Mesmo o excesso de informações não retrata a realidade como ela é, não estamos lá para conferir tal grau de desumanidade. Neste ponto, o que surge é a impotência. O que podemos fazer? Lamentar? Sim, a distância nos torna impotentes. A manipulação nos torna submissos...
Ninguém sabe de nada. Somos todos alienados ou manipulados. Ou deixamos a informação seguir em frente sem ser assimilada, ou deixamos que ela forme opiniões por nós.
Todos os dias, milhares de notícias são espalhadas pelo mundo. Todos os dias, as pessoas sabem cada vez mais sobre cada vez menos...
Como podemos mudar uma realidade, se nem ao certo sabemos como ela é?
Fernanda M.F. Amaral tem 17 anos e
estuda no Externato Ofélia Fonseca. [Subir]